Recordações de Primavera
A vida, uma palavra de quatro letras que é facilmente dada como garantida.
A morte, uma palavra de cinco que é facilmente temida.
O que acontece entre as duas é aquilo que faz desabrochar sentimentos e faz o mundo girar, faz com que tenha algum significado e ao mesmo tempo perde o sentido.
Foi num dia de primavera que dei por mim a despertar memórias de uma primavera passada, a primeira primavera, a mudança do clima, o acordar das sementes interrompe o sono, os raios do sol mudam de cor, são mais intensos e fazem tremer a neve.
Cada dia é diferente, o que me deixava constantemente ansiosa, não sabia o que esperar e ficava a pensar nas flores que se iam abrindo nas árvores, nos pássaros que de manhã não me iam deixar dormir.
Pensava em cada mudança, que passo a passo transformavam os dias em relíquias que valiam a pena conservar.
Lembro-me tão bem de ti, do momento e do perfume da terra molhada pela chuva que ainda não se tinha ido. Dos sorrisos e abraços imperfeitos da tarde nada fria. Do calor que senti quando te abracei pela última vez.
Escusado será, dizer que senti, senti-te, apesar de parecer absurdo.
É tão curioso, falar de uma época tão esperançosa, em que o nascimento e a revitalização são tão marcantes, mas ao mesmo tempo pensar em minutos desesperadores.
Queria falar de ti, antes da primeira primavera, mas entretanto, a vida passou ao lado, foi-se embora sem avisar e sem dar por isso, levou todos os fios que nos ligavam, um ao outro... Eu perdi-me na beleza das flores e esqueci-me.
Ao mesmo tempo surgiu uma nova primavera, mas não é a mesma, nunca é, nunca será, que alívio.
Tive tanto medo de te perder, que te perdi sem querer...
E como a primavera, mudamos, mudamos todos, lentamente, entre os minutos, entre os suspiros, entre as lágrimas, entre as palavras.
Mas prometo-te, que não te esqueço, nunca! Seria ainda mais doloroso lembrar-me de que te esqueci.
CM